Nada

E agora nada…

nada pode se tornar o máximo da plenitude

Sentir o nada vivifica a alma.

Alma que  cada vez mais nada, e nada quer.

O interesse da alma à preenche

e não é mais possível nada querer

O fim da busca…o começo de Emma

 

Emma encontrou sua outra alma, e ela era outra. Sua incessante busca havia chegado ao fim. Emma a encontrou em um lugarejo , na praça de uma cidade pequena sentada em um banco em frente ao chafariz. Ali parada, reflexiva, fazendo o que Emma tinha o costume de fazer antes de partir em sua procura…pensando.  Olhou, olharam-se, e Emma seguiu certa de que aquela não era mais ela, sua alma nem a reconhecerá. Percebeu que ela havia construído todo o caminho em busca de sua alma, nesse caminho aprendeu, aprendeu a olhar para outra coisa que não seu reflexo no chafariz. Conheceu pessoas que não buscavam por suas almas apenas seguiam seu caminho, e agora podia as entender. A alma é mesmo aquela, faz parte de Emma, ali parada apática e sem nenhuma grande novidade, era como se voltasse para casa e visse a si mesma antes de partir. Nada disso fazia sentido. Emma sempre achou que  precisa dela para se sentir mais vida, para finalmente perguntar a ela de que ela gosta e o que poderiam fazer juntas. Emma queria estar completa com sua segunda alma, pensava que só assim poderiam seguir as vida em um rumo certo. Agora, confusa, ela dá as costas àquele ser ali sentado e segue, continua se sentido incompleta mas de alguma forma isso a alivia, pois sabe que pode seguir seu caminho.

– Dê um passinho a frente e faça poesia e metafísica, por favor. – disse o cobrador

ImagemSempre me incomodou o fato de, no ônibus, as pessoas ficarem ou junto ao cobrador ou no meio do carro, e o fundo ficar sempre vazio. A cada ônibus lotado eu fazia um exercício de reflexão para entender a lógica subjacente a este ato. Se antes eu não havia encontrado sentido algum, agora, com a mudança dos ônibus em Porto Alegre,  acredito que possa ser por que a porta está no meio, e cada um pensa  que irá descer antes do outro. Todavia isso ainda não me satisfaz e a cada ônibus lotado volto a refletir e a imaginar novas razões. As primeiras razões que descartei há muito tempo foi pensar que as pessoas seriam surdas, estrangeiras ou simplesmente mal educadas a ponto de não agirem frente a uma gentil solicitação do cobrador. E talvez a busca incessante por novos razões sejam justamente para poder abandonas estas. Pois bem, a pouco lendo Cortázar fiquei com o misto de felicidade, excitação e duvida  ao saber que essas pessoas que não dão um “passinho mais a frente”  estão fazendo física  ao passo que passar significa seguir os conselhos necessários  “à uma vida banana” e a única forma de fazer poesia, esta que não pode ser feita por só um. Quem sabe possamos até saltar do ônibus por suas janelas mesmo, transcender ao ônibus.  

retomando

Já fui filha de pais jovens,
filha de pais separados,
filha de avó,
filha de mãe solteira,
mãe de mãe,
mãe de irmã,
tia de primo.

Já fui namorada do principe encantado,
namorada de portão,
namorada de verão,
namorada de amigo,
amiga da namorada.

Hoje sou Emma

“E Polo:

O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pesssoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar perceber quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço'”
(Italo Calvino, As cidades invisíveis)

Emma e o suicida

Em Porto Alegre um dos lugares privilegiados para saltos suicidas é o viaduto da Av. Borges, e o melhor horário é, claro, o de maior movimento. Emma no  inicio da manhã seguia seu rumo e cruzava o viaduto, neste dia encontrou um homem prestes a dar seu ultimo salto em vida.

Com pavor, mais sempre com impulso curioso, Emma não tentou fazer com que ele desistisse de seu ímpeto, apenas perguntou: “Moço, o que faz com que uma pessoa pule do viaduto ?”

Prontamente homem cabisbaixo respondeu: “viver entre outras pessoas”.

Emma continuou seu caminho rumando sem alma, o homem pulou …e só.

Sobre ocupação de espaços urbanos, virtuais e ideológicos

Primeiro ataque a estrutura de sites que permitem o compartilhamento de informações e um projeto de lei estadunidense, o SOPA, que incide sobre o mundo, a partir da virtualidade.  O grupo Anonymous reagiu ao projeto de lei SOPA com a campanha Stop Sopa, e proveu ataque bloqueando diversos norte-americanos inclusive o site do FBI. No sábado, religiosos no Brasil novamente protestam contra a intolerância religiosa, dia 21 de janeiro data de falecimento de uma Mãe de Santo, denunciando principalmente a intolerância e o racismo institucionais.  No Domingo, a polícia de São Paulo invade brutalmente  a comunidade de Pinheirinho em São José dos Campos, que ocupava uma área e lutava pelo direito constitucional a moradia. O que mais dizer sobre a semana ?

Que é mais uma entre as outras passadas e que virão. O que acontece em Pinheirinho não é uma situação isolada. Com a desculpa da Copa a oligarquia do Brasil tem promovido inúmeras ações de despejo e de simples sumiços de pessoas que ocupam de forma visível o espaço urbano. A ação de barbárie em Pinheirinho é o ápice de inúmeras ações de despejo  no Rio de Janeiro e do desaparecimento de moradores de rua Brasil a fora. Revestidos de projeto de urbanização e salvaguarda do patrimônio histórico das cidades, essas ações são SEMPRE violentas ao desconsiderarem a condição humana e a autonomia de ir e vir de grupos inteiros que convivem no mesmo espaço social urbano. A Democracia é uma falácia oligárquica.

Não só nesse momento de “COPA” isso acontece, a ocupação é a forma histórica e possível de ter moradia em muitas cidades brasileiras, principalmente ao considerarmos que boa parta da população, isso hoje, não recebe mais que um salário mínimo (e aqui nem vou comentar o abusivo salário de políticos). E interessante perguntarmos quem ocupa? As Favelas nas cidades brasileiras são mais antigas que os novos e luxuoso bairros e condomínios fechados (como o de Pernambuco, que virou chacota nacional). A população ocupa e mora na cidade e a especulação imobiliária invade e ainda por cima ganha voz com a (in)justiça do aparato judiciário.  Falando em oligarquia, é interessante citarmos o intocável judiciário, e nesse sociedade (em que Hackers tem feito justiça) um sistema curioso de produção de leis e de execução destas. A lei é primeiramente produzida por uma série de indivíduos altamente capitalizados, ao menos o projetos delas. Depois elas passagem por uma série de correções e avaliações que conferem a constitucionalidade, essa avaliação é em última instancia conferida por pessoas que consideradas especialistas, também altamente capitalizados (para que não sofram com o suborno). Esses especialistas obtêm essa condição por terem ao longo de alguns anos se empenhado em desenvolver e aprender uma linguagem especifica (juridiquez) que poucos sabem (assim que as oligarquias mantém seu poder). É, então, a partir desse código lingüístico especifico que essas pessoas afirmam e julgam o que pode e o que não pode, o que é certo e o que é errado na sociedade perante o Estado. Costuma-se pensar que essas especialistas agiriam para o bem comum, ou seja, para todas as pessoas. Mas eles são também pessoas, e como tais têm seus próprios interesses, ideologias e pertencimentos, respondendo a esses.

Assim é possível nos perguntarmos quando uma lei como a SOPA é proposta os interesses de quem estão sendo colocados em jogo? Para quem é interessante a limitação do compartilhamento de grande informações pela internet? Quem ganha impedindo que as pessoas possam ter acesso a filmes, músicas, livros ou mesmo informações pessoas – ninguém pensou em lei para impedir que as redes sociais armazenem nossas informações e as vendam. A Pirataria historicamente é uma forma de conseguir recurso para sobrevivência, a pirataria virtual é também isso. A pirataria virtual é como a ocupação, há no mundo virtual uma série de proprietários que dominam parte do sistema por ter conhecimento técnico e, digamos, dinheiro para construir, há pessoas que ocupam os espaços que ainda não tem proprietários, e que tentam assegurar esse espaço para a construção e divulgação de qualquer informação, caso contrário ficaremos só com a informação que o proprietário permitir temos.

No mundo virtual circulam uma série de outras propriedades, como músicas, filmes, livros de pessoas que produziram a partir de suas vivencias e que foram compradas por corporações que viram nessas coisas a possibilidade de lucrar.  A partir de uma estrutura sites que permitem o compartilhamento de informações digitais mais pesadas essas propriedades (musicas, filmes, livros…) estão sendo compartilhadas com todos. O que não agrada as grandes corporações, mas que não acabe incidindo em quase nada para as pessoas que criam.

Os especialistas agem também conforme o que consideram certo e conforme sua ideologia quando permitem uma lei que agride outras ideologias e formas de ver o mundo. Quando tratam todos com igualdade perante lei, mas com desigualdade perante os seus olhos. Quando decidem sobre o corpo de alguém sem respeitar a idéia de corpo e a forma de seus corpo. É o que acontece quando juízes emitem opinião sobre o aborto, sobre a união homoafetiva, sobre se alguém sofreu de racismo ou não. Ou mesmo se o soar dos tambores é um incomodo. Mas não são só esses especialistas. Há outros tipos de especialistas no Estado.

Há uns que não são muito capitalizados, mas que tem o poder do fogo. Esses funcionam como cachorros de guarda, quando os proprietários (e nesse caso o Estado é um) mandam morder, eles mordem !! Sem critério nenhum ? É claro que tem critério, o critério é atingir o mais fraco, o negro, o pobre . Assim que a polícia mantém desde a escravidão a ação de colocar o pe na porta dos terreiros. Assim que eles mantém a memória da ditadura linchando, torturando, sumindo com pessoas que lutam pelos seus direitos.